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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

EU QUERO É SER ENGANADO

O QUE NÃO É VERDADE NEM SEMPRE É MENTIRA

É o mesmo que tentar dizer que contra fatos não há argumentos, numa circunstância qualquer em que se faz necessário argumentar contra os fatos e, principalmente, quando não se têm argumentos. Até porque argumentar – nesse caso – é raciocinar de uma forma a opor sua lógica a uma lógica anterior, que foi proposta pelo adversário. Isso se torna complicado quando o adversário é do sexo feminino, jogando no contra-ataque, em número superior a sua defesa, e ganhando de goleada. É o quadro perfeito que descreve, por fim, as desculpas dadas a sua companheira.

Tem uma história que ilustra bem a situação: um fazendeiro foi ordenhar uma vaca. E como é do procedimento na ordenha, puxou o rabo da vaca pro lado e o amarrou junto aos pés da vaca para não vir a levar chicotadas, nem coices, enquanto a ordenhasse. Nesse momento o fazendeiro sentiu uma vontade descontrolada de fazer xixi, e bruscamente baixou as calças ficando por detrás da vaca. Aquela sensação agradável o deixou amolecido e com os olhos virados. Foi quando sua esposa chegou e o viu naquela posição, segurando a traseira da vaca, as calças abaixadas e com o “bráulio” na mão. O que dizer?

Como eu dizia, o que não é verdade nem sempre é mentira. Acho mesmo que existe um estado de coisas que habita entre a verdade e a mentira e, tanto não deve ser descartado como também não deve ser levado tão a sério assim; é quando nos tornamos um pouco escravos desse tipo de coisa. De um tipo de mentira útil. Algumas mentiras descabidas se tornaram tão úteis que fazem melhor o papel da verdade do que a própria verdade, nua e crua – é o exemplo das calças jeans, que torneiam, dão forma e embelezam.

Assim, também, é com o término de um relacionamento, ou com a explicação do motivo pelo qual você foi demitido do seu último emprego, ou ainda quando alguém com quem você dormiu – e você detestou – te liga na manhã seguinte. Esse estado de coisas desenvolve uma habilidade que nos mantém vivos num ambiente adverso.

Encare, por exemplo, sua mulher ao dizer a ela que você foi demitido. Isso porque houve uma contenção de despesas na empresa, onde você foi o escolhido pelo simples fato de ser o seu salário o menor, e com isto cobririam as despesas com o cafezinho. Ah! Isso nunca! O que dizer?

Claro, dizer que você sempre teve amigos mascarados naquela empresa, que não podiam esperar mais para te ver pelas costas, e aquele foi o momento certo que eles acharam. E como havia uma necessidade de cortar a cabeça de alguém, escolheram a sua numa reunião num bar fora do expediente, e como você nunca vai ao bar com os supostos amigos do trabalho... Não deixa de ser uma verdade o fato de você ganhar pouco, mas o que seria a mais suportável? A mentira. Lógico!

O Jornal, por exemplo, nos enche de mentiras todos os dias e nós fingimos acreditar tão bem, que somos capazes de comentar suas notícias em qualquer lugar, como co-autores da mesma, principalmente se as contarmos a alguém que não viu o noticiário. Aí sim! Baixa o espírito do jornalista no caboclo, e você vira o pior fofoqueiro da praça; com as devidas justificativas.

Veja-se, por exemplo, a situação em que se encontrava um, agora, ex-presidente dos Estados Unidos. Mentiu, usou a Imprensa como sua aliada para divulgar o que ele acreditava ser uma verdade absoluta e passou a administrar as consequências de suas decisões e farsas, distribuindo bandeiras americanas sobre os caixões dos soldados mortos durante a ocupação pós-guerra, chegando a afirmar, certa vez, que dois helicópteros do exército se chocaram em pleno ar. Nem no Brasil, que acontece de tudo.

Pergunto quanto custa divulgar a verdade e a paz? Parece-me que custa mais caro que divulgar a mentira e a guerra. Porque, primeiro, seria necessário desarmar a população mundial de suas convicções, adquiridas através da informação e das experiências cumulativas que, muitas vezes negativas, são produto de uma cultura alienígena que habita entre nós. Ou você acha que todas aquelas coisas inadmissíveis sejam produto da criação humana?

E nós, nós vivemos num país onde habitam 105 milhões de não pobres e 15 milhões de ricos, embora, é verdade, existam 50 milhões de pessoas vivendo entre a pobreza e a miséria absoluta. Contando com o número de desempregados que cresce a cada dia e as obsoletas, ou seriam inoperantes, leis brasileiras, temos, então, o crescimento descontrolado da violência que assola os grandes centros urbanos.

Os números, em si, não são nem otimistas, nem pessimistas. Números são neutros. Aqueles que o utilizam é que modificam o que possam vir a informar. Como, por exemplo, o copo com água pela metade. Dependendo do interessado o copo vai estar “meio cheio” ou “meio vazio”, embora a metade seja um número exato. Não se engane, existem sim, meias verdades e mentiras completas.

A verdade exige exatidão. Enquanto que a mentira não exige nada. A mentira, dizem, é uma expressão contrária ao que se sabe. Encarar a realidade, como se sabe, dói. Mas humanidade é isso mesmo. É não vivermos com a exatidão da máquina, porém não deixando de nos expressar contrariando a tudo o que sabemos. A verdade tem de ser útil e geralmente atender a todos. A mentira, em si, atende apenas ao gesto egoísta. E existem diversos egoísmos como os individuais e os coletivos, o de pátria, o de classe, o de família, o de profissão.

Meu amigo, eu quero é ser enganado. Porque a realidade dói.

Um comentário:

  1. É mais ou menos assim: "Você fingi que é verdade, e eu finjo que acredito".

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