Páginas

Translate

sábado, 15 de janeiro de 2011

CAÇAR COMO GATO


Já tem uns dias que quero contar essa história mas não sabia se ela ficaria bem quando escrita. Talvez os recursos da oralidade e as expressões manifestem melhor o que realmente aconteceu. Mas para mim, será um grande exercício. E saibam, não quer dizer que escreverei bem ao ponto de dar conta do recado.

Meu pai, sempre repetia em casa que a expressão correta seria: quem não tem cão, caça como gato. Isso mesmo, não é como se diz: quem não tem cão, caça com gato. Primeiro porque levar um gato à caça já seria um trabalho enorme. Porém, o gato caça sozinho e na surdina, para pegar a caça de surpresa. Instinto felino.

Mas um dia desses, quando tive uma folguinha, estava na varanda de minha casa tomando sol, olhando o mar e vendo a praça com um resquício de grama verde. Eram as primeiras horas da manhã, eu despertava para ir a padaria tomar café.

Eu acompanhava com o olhar o vôo dos pombos que aterrisavam na praça a medida em que pessoas que caminhavam, em torno dela, se distanciavam. E assim uns seis ou oito pombos ficaram ali bicando o chão e olhando ao redor, sempre alertas.

Pombos! pensei... pombos em algumas áreas são uma ameaça a saúde pública... E de repente algo me chamou a atenção. Um gato. Um gato amarelo. Um gato amarelo atrás de uma moita. Olhando o movimento dos pombos. Eu ali em cima, olhando tudo. Os pombos, as pessoas, o mar e o gato. Fiquei imóvel quando vi os primeiros passos do gato em direção aos pombos.

O gato andava lentamente. Lembrei-me das leoas quando caçam e antes de partir ao ataque mortal, caminham lentamente... Instinto felino. O gato amarelo. Um leão reduzido ao tamanho de um pombo. Agindo sozinho, lentamente, na surdina.

Ele parava a qualquer parada dos pombos para espiar. Estátua! E lentamente baixava, deitava-se na grama, mas sempre em posição de ataque. Os pombos já estavam espertos. Sabiam que ele estava ali. Mas não paravam de bicar o chão.

O gato resolveu dar uma investida final. Não correu. Ele caminhava lentamente mas agora mais próximo, foi quando todos os pombos olharam para ele, ao mesmo tempo. Dava para sentir o clima tenso daquele momento quando se entreolharam e... o gato olhou para trás. Como se não fosse com ele.

Isso mesmo!!! O gato simplesmente olhou para trás como se estivesse dizendo: Quem vem de trás e quer nos atacar, irmãos?

O gato ficou olhando para trás por uns instantes e depois lentamente virou a cabeça em direção aos pombos. Eles não podiam mais aguentar aquela situação e voaram. O gato amarelo ficou com cara de tacho. Saiu caminhando... lentamente. Instinto selvagem, nanico, e frustrado.

Eu? Ah! eu tô morrendo de rir até hoje quando lembro dessa cena. Precisava ter sido filmada.

O gato caça sozinho... dizia meu pai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela participação. É isso que engrandece os pequenos gestos.